Silvio Correa
Já reparou ? Estamos sempre comentando sobre relacionamento e comportamento. E o
relacionamento com nós mesmos, como está ? Como estamos ?
Eu, por exemplo, tenho um grave problema. Luto contra uma tendência, poderosa, de me sentir o
“pobre coitado”. Dependendo do meu “estado de espírito”, uma simples observação feita por
terceiros pode me colocar no lamentável estado de “vítima”.
Eu sou obrigado a ficar me vigiando a todo momento. Bater, de vez em quando, um papinho com o
espelho é procedimento padrão.
Sim, é uma situação horrível mas, como você sabe, qualquer ponto fraco poderá se tornar um
ponto forte. Depende de nós !
Por causa dessa situação que vivo há décadas, desenvolvi um forte sentimento de vigilância. É
difícil eu não me questionar várias vezes durante o dia; “Por que estou agindo assim ?”, “O quanto
o meu orgulho está influenciando minha decisão ?”, “Vale a pena ter essa discussão ?”, “Está
havendo algum tipo de crescimento, pessoal e/ou profissional, meu e de outrem ?”.
Todos nós, vez por outra, cometemos um erro, uma injustiça. Aqui, duas etapas são
importantíssimas. Uma é o reconhecimento do erro, que influenciará, também, no relacionamento
interpessoal e outra é a capacidade de nos perdoarmos, que atinge em cheio o intrapessoal.
Quantas vezes esse sentimento de “culpa” já o impediu, de alguma forma ?
O perdão, no meu entender, é uma das primeiras chaves. Se você consegue reconhecer o erro,
aceitá-lo e se perdoar, com certeza poderá levar esse “perdão” para o relacionamento interpessoal
e várias portas serão abertas.
Um outro problema no relacionamento intrapessoal é quando a nossa fértil imaginação trabalha
contra. Tomamos uma decisão que achamos ser a mais acertada e depois, ficamos imaginando se
não poderia ser assim ou assado. Relaxe ! Relaxe e aguarde os desdobramentos e então, outras
decisões poderão ser tomadas.
Ainda escrevendo sobre a nossa imaginação, tenho um grande amigo que estava viajando,
dirigindo, cochilou no volante e o carro saiu da estrada. Nada de grave aconteceu. Contado por
ele, foram mais de seis meses imaginando, acordado ou dormindo, uma infinidade de novos
desfechos para o acidente e todos, sem exceção, com finais trágicos. Ficou mais de 1 ano sem
conseguir dirigir em estrada.
Fica então uma pergunta. Se ainda não conseguimos conhecer, e lidar, com o “myself” (muitos
nem tentam e outros, ainda, nem querem) como podemos, ousar, julgar o outro ?
Se começarmos a nos criticar construtivamente e observar as nossas ações, vamos perceber uma
coisa interessante. Muitas vezes quando criticamos alguém, em relação a alguma coisa, é porque
essa “coisa” também está em nós. Repare e verifique ! Esta é uma poderosa maneira de nos
conhecermos melhor.
Já tem algum tempo que uma cruzada para valorização da ética nas empresas vem acontecendo.
Mas como ser ético nos negócios, se falhamos nos nossos relacionamentos internos; se muitas
vezes nos enganamos, nos ludibriamos. Antes de tudo, a ética é um posicionamento interno, num
movimento de dentro para fora. Desculpem; fingir ser ético para alavancar os negócios é ferir a si
mesmo e aos clientes.
Fico por aqui.
Engenheiro com especialização em Análise de Sistemas, onde atuou por 15 anos em cargos
de liderança, na Cobra Computadores, Petrobrás e Ediouro. Em 1994 iniciou a atuação em
Qualidade Total e Gestão de Processos, passando a atuar, também, em Treinamento de
Conscientização Organizacion