quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Faculdade serve como filtro

Gazeta Mercantil – São Paulo, 26 de setembro de 2000

Em um mercado de trabalho em que o diploma de Master in Business Administration (MBA) tem ganho cada vez mais peso no currículo, e uma experiência profissional bem-sucedida é reconhecidamente o fator determinante na seleção, o nome da instituição de ensino onde o executivo se formou pesa na hora da contratação? ‘É a primeira coisa que eu olho em um currículo’, afirma o headhunter Carlos Diz, sócio da Spencer Stuart – uma das maiores empresas de recrutamento de executivos do País. ‘Na entrevista pessoal, vou descobrir se o que está no papel faz diferença.’ Para o presidente da Arthur D. Little, Paulo Apsan, a formação acadêmica de renome funciona como o primeiro teste de seleção profissional. ‘Não é à toa que as empresas costumam ir em busca dos ex-alunos da FGV, USP ou ITA. Estão comprando o ‘filtro’ que estas universidades impõem aos melhores candidatos.’ Passar por este filtro – que já começa no vestibular, numa concorrência que chega a 60 candidatos por vaga – significa ter um alto índice de capacidade intelectual, disciplina e persistência. ‘Em uma situação de iguais, o nome da universidade vai ser o diferencial’, diz Apsan. ‘Principalmente, quando se trata de um executivo em começo de carreira. À medida que ele adquire experiência profissional, a universidade pesa menos na avaliação’. Mas que ninguém se engane: nome não é tudo. Para galgar posições na empresa, este jovem executivo ainda deve agregar aptidões, como iniciativa, sociabilidade, curiosidade intelectual e traços de liderança. ‘Caso contrário, ele pode até ser recrutado, mas vai ficar estacionado dentro da empresa’, diz Apsan. O nível de ensino das universidades brasileiras, no entanto, ainda deixa a desejar quando o assunto é aliar teoria à prática. ‘As universidades têm formado administradores para empresas que já faliram’, diz José Carlos Figueiredo, diretor de executive search da PricewatherhouseCoopers. Para ele, muitas dessas deficiências só poderão ser corrigidas direto no mercado de trabalho e, mais tarde, com um MBA. O executivo reconhece os nomes preferidos pelo mercado na hora de contratar. ‘A Fundação Getúlio Vargas, a Universidade de São Paulo, o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e a Fundação Armando Álvares Penteado, a FAAP – esta última, uma instituição nova, mas que tem apresentado ótimos profissionais’. Para Diz, da Spencer Stuart, outros bons nomes são a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Pontifícia Universidade Católica (PUC), do Rio. Uma vez definidas as melhores instituições, começa a corrida por parte de consultorias, bancos e grandes empresas pelos talentos recém-formados. Os preferidos são ex-alunos de engenharia, donos de uma habilidade natural para lidar com números e cálculos intricados – embora poucos tenham capacidade semelhante quando o assunto é atendimento. Para dar suporte aos engenheiros recém-formados do ITA e da Escola Politécnica da USP, a consultoria Booz, Allen & Hamilton resolveu promover um curso de adaptação. ‘Muitos ex-alunos não sabiam o que fazer quando se deparavam com um balanço pela frente’, diz Sônia Barreto, assessora de desenvolvimento da Fundação Casimiro, instituição ligada ao ITA, que ajudou a consultoria a delinear o treinamento. Segundo Sônia, estes profissionais saem da universidade prontos para analisar gráficos e tabelas, mas não têm conhecimentos de técnicas empresariais. Partem para o mercado financeiro atraídos pelas perspectivas de carreira e remuneração. Nos oito meses do curso da Booz, Allen, são ministradas aulas de administração, economia, marketing e contabilidade. Ao final do treinamento e do estágio na consultoria, alguns dos candidatos serão contratados. O coordenador de estágios do curso de engenharia da computação da USP, Shigueharu Matai, define, na sua linguagem, qual é o diferencial de um aluno da Poli. ‘Ao procurar um aluno que passou por um curso de renome, o mercado está garantindo a CPU, o cérebro. Se vai funcionar bem, depende do sistema operacional, ou seja, do ambiente de trabalho. Também é necessário que o aluno mude sempre de aplicativos, faça ‘upgrades’, para se renovar. Mas de nada vale uma boa máquina e um bom programa, se o monitor, onde se dá a apresentação, é ruim. É essencial saber se relacionar.’
 
Daniele Madureira
(Gazeta Mercantil 26-09-2000/Página C2)