domingo, 20 de fevereiro de 2011

INTELIGÊNCIAS INTRAPESSOAL E INTERPESSOAL SÃO AS BASES DE TODAS AS CONQUISTAS.

http://www.vencer.com.br/materiaCompleta.php?id=176

Por: Margot Cardoso
Jean-Paul Sartre, o pensador existencialista francês, teve toda a sua base de pensamento na crença de que o homem é o único responsável pelo seu destino. Tragédia ou comédia, dor ou prazer, dádiva ou maldição, fracasso ou sucesso... Qualquer um destes destinos só aconteceria a partir das escolhas individuais. Sartre acreditava tanto na relevância da atuação humana que desconsiderava inclusive os acidentes e fatalidades que eventualmente pudessem acontecer ao homem: "não importa o que fazem a você, interessa o que você faz do que fizeram com você".
Uma constatação verificável. É lugar-comum o fato de que algumas pessoas que têm todos os seus acontecimentos de vida voltados para a felicidade, acabam por vivenciar um futuro marcado por tragédias, e vice-versa. Uma realidade paradoxal e o mote da maioria das biografias de sucesso e das histórias que pregam ensinamentos de vida. É clássica a história do homem que, acusado de vários crimes e condenado à morte, deixou dois filhos: um criminoso igual a ele e um bem-sucedido empresário. Os dois filhos, questionados a fazer um paralelo entre suas vidas e a do pai, tiveram idêntica argumentação: "O que você queria que eu fosse, tendo um exemplo como o de meu pai?".

Uma inteligência?
É a sua atitude pessoal que regulará e estabelecerá a forma de lidar e reagir ao mundo. O psicólogo Howard Gardner conceituou esta capacidade como Inteligência Intrapessoal (autoconhecimento) e Interpessoal (habilidade para se relacionar com pessoas), que Daniel Goleman popularizou como Inteligência Emocional, consagrando o conceito de que a forma de lidar com a realidade é que faz toda a diferença.
A consultora Dulce Magalhães, doutora em Planejamento de Carreira (Universidade Columbia, Estados Unidos) e especialista em Educação de adultos (Universidade de Oxford, Inglaterra), chama a atenção para o fato de que estas inteligências estão no domínio da comunicação. A Inteligência Intrapessoal caracteriza-se pela relação do indivíduo com ele mesmo. Quanto mais você compreende sua essência (quais são seus objetivos, o que é mais importante para você), melhor é o seu processo decisório, porque você estará mais em sintonia com o seu foco. Em tempo: foco é um propósito, é aonde você quer chegar, é a sua missão, a sua razão de estar aqui. Se você não tem um, a primeira tarefa é achar. Sem foco todo o resto é inútil.
"Muitas pessoas vivem dilemas existenciais porque não têm clareza do foco e acabam fazendo escolhas erradas", explica Dulce. Um exemplo é a escolha profissional, um dos primeiros grandes desafios no treino da capacidade de decidir do adulto. "Uma dificuldade natural por causa da idade e da pouca maturidade. Muitos decidem na ficha de inscrição do vestibular e outros, mesmo que decidam antes, ainda têm dúvidas. Esta dificuldade tem a ver com falta de treinamento de percepção de foco. O aprendizado é complexo, porque é muito dinâmico. À medida que crescemos, vamos mudando, e o nosso foco também muda. E, muitas vezes, não temos consciência destas mudanças e tomamos decisões sem sintonia com o nosso momento. E até mesmo nos enganamos no que queremos. Buscamos um objetivo, mas na verdade não era o que queríamos".

Onde é o treino, capitão?
Este tipo de treino não exige situação ou local especial. É um treinamento para o dia-a-dia. Um exemplo comum é a forma de lidar com o "não". "Muitas vezes, você diz "não" para coisas que deveria dizer "sim", e vive-versa. Diz "sim" para um amigo, mas, na verdade, não tinha tempo. Em seguida, você se questiona por que assumiu aquilo. O que ocorre é que você detinha o conhecimento de que não queria fazer aquilo, mas não soube comunicar de forma positiva (olha, a comunicação!). Você só viu o lado negativo do "não" e não conseguiu atuar com ele. O "não" não precisa ser negativo. Nós temos muito pouco treino em cima dele e se você não souber reformulá-lo, você acaba ficando com o lado negativo para você", esclarece Dulce.
Outro exemplo da deficiência no processo decisório é a dificuldade que temos de lidar com a influência (e, às vezes, a manipulação) externa. Muitos, por falta de autoconhecimento, vivem o sonho dos outros, a escolha do outro: de um amigo que admiram, dos pais...

Salto consciente
Poderemos descrever páginas e páginas da nossa incapacidade de acertar nas decisões - e todos mais ou menos sabem onde erram -, mas a questão é: como agir para melhorar? Você sabe onde erra, sabe que precisa mudar, mas a atitude nunca vem.
Onde começa o processo de mudança? A primeira questão é a conscientização. Enquanto você não tem consciência, não há possibilidade de mudança. Dulce explica que não se ensina. "Nem por mágica se transfere consciência. As pessoas podem dar feedback, mas se você não achar que é assim, não adianta, você não vai mudar", diz.
A consciência vem aos poucos, lentamente. E qual é o ponto de partida? Lá vai: um bom começo é, diariamente, refletir sobre o seu comportamento e observar as outras pessoas. "Observe e avalie o quanto aquele comportamento é melhor do que o seu. Isto é um ponto importante, porque evita que você se perca dentro da sua verdade. Com este tipo de análise, você faz uma espécie de raio X do seu comportamento, adquire discernimento detalhado, vê melhor as diversas nuances das coisas. E melhor: com o treino, você vai percebendo que aquele seu comportamento não é o melhor, não é o mais bem-sucedido, nem o mais interessante. Quanto mais repertório de atitudes, mais você vai melhorando e ajustando a sintonia.
Adestramento canino? Não subestime este tipo de atitude. A princípio, você pode implementar ações simplesmente por condicionamento. Mas, depois do exercício (e dos resultados), você começará a enxergar tudo com mais clareza e perceberá que tudo estará mais próximo de suas mãos. Auto-estima? Bem lembrado. Este tipo de postura não prejudica em nada sua auto-estima (a menos que você se considere um retrato tão bem acabado de si mesmo que já esteja pensando em largar a faculdade para dedicar-se à sua autobiografia) porque, com esta atitude, você dará os primeiros passos no aprendizado de um conceito muito valioso do desenvolvimento humano: a separação de você e do seu comportamento.

Estou nervoso, mas não sou

Você não é o seu comportamento. Pode-se mudar um comportamento como se muda de roupa. E, claro, uma roupa pode não ficar bem em você. Às vezes, você adora determinada cor, e alguém alerta de que ela não combina, não fica bem em você. Seja construtivo, aproveite a observação e vista-se de outra cor. Esta versatilidade de comportamento faz com que você ganhe domínio sobre as situações, e você deixará de se confundir com o seu comportamento. A comparação com a roupa continua: a informação de que determinada cor não fica bem em você pode ser encarada como ofensa na medida em que você considera que é uma crítica à sua pessoa, e não à cor da roupa. Se você confunde o que faz com o que é, reagirá muito mal às críticas e não vai mudar. Qual é a reação comum? "Eu sou assim mesmo". Não. Tornamo-nos assim, estamos assim. Assim como dissemos "eu sou assim", podemos dizer "posso não ser assim"", esclarece Dulce.

Não perca de vista
Observar os outros, buscar informações, rever posturas e, importante, não tirar os olhos do seu foco. Sabe quando você percebe que está na trilha certa, em direção a sua meta? Quando começa a perceber que atrai informações que alimentam seus objetivos, quando começam a aparecer as coincidências. "Você encontrará pessoas que têm os mesmos interesses, que viram o mesmo filme, leram o mesmo livro... É porque você está no caminho da consciência, está atento às coisas que estão próximas do seu foco. Não existe coincidência", afirma Dulce. É como uma grande livraria: se você estiver no departamento de história, com certeza encontrará pessoas que estão buscando coisas similares. Quando se tem foco, vários interesses convergem, há uma sintonia, e esta sintonia é energia. Inteligência é consciência", conclui Dulce.

Relacione-se!
Mostre quem você é
A capacidade de gerar empatia, fazer marketing pessoal, estabelecer networks está no âmbito da Inteligência Interpessoal. Para um bom relacionamento com o outro é necessário que você se exponha, tenha empatia, reconheça o outro. Porém, se você não é bem resolvido, não se conhece. Tudo que acontecer a partir daí corre riscos. O autoconhecimento vem primeiro, é a base. "Você não pode dar aquilo que não tem. Como você pode ser amigável, se comunicar bem, se você não se comunica bem, não é amigo de você mesmo? A estrutura do bom relacionamento com o outro é fruto do diálogo interno", explica Eugênio Ferrarezi, da Consultoria Vem Ser, especializada em mudança de comportamento.
A proposta do marketing pessoal (e, mais uma vez, ao contrário dos que muitos pensam, não é um exercício de vaidade) é você se mostrar e se colocar à disposição do outro, da sociedade. É a projeção. Você precisa ser melhor e se comunicar melhor para ser melhor percebido.
É necessário que você trabalhe a sua essência. "De um modo geral, nós somos o que não queremos; dizemos, vivemos o que não queremos. Estamos em circunstâncias, em lugares que não gostamos; assumimos compromissos que não têm a ver conosco. Estar o que não se é, o que não se quer, é viver em contradição com aquilo que se quer. Precisamos mudar para sermos quem somos", ressalta Dulce.
Enxergue o outro!
Reconhecer o outro é encontrar uma área de interesse mútuo. É estar atento ao outro. Há pessoas que têm uma dificuldade enorme de reconhecer o outro. Dulce cita o exemplo de uma pessoa centrada em si mesma: está sempre pedindo coisas para ela ou contando coisas que só interessavam a ela. O resultado é que as pessoas não têm vontade de estar com ela. Por mais inteligente e competente que esta pessoa seja, isto só não basta. "O relacionamento é de mão dupla, é interesse mútuo. Há pessoas que não têm educação formal, não são instruídas, mas têm uma habilidade enorme em ouvir. Ouvem o outro e colocam uma posição nova, criam uma relação. São pessoas interessantes. O maior medo humano é o da solidão, e, por isso, a gente se liga aos outros. É por necessidade que desenvolvemos a Inteligência Interpessoal".

Obstáculos intransponíveis
Alguns entraves precisam ser superados. Caso contrário, não há progressos
Se você já fez um levantamento de tudo que deseja e precisa mudar em você, o próximo passo é estruturar e colocar em prática as mudanças. "Isto é conhecimento. Se você sabe e não faz, fica só na informação. O que você sabe e faz, é conhecimento. Se você sabe, mas não faz ou nem sempre faz, isto é apenas informação. Saber e não fazer é ainda não saber", esclarece Dulce.
Qual é a dificuldade da prática? Hábitos que adquirimos na infância, moldes sociais, educacionais ou mesmo a repetição freqüente de palavras limitadoras e... pronto! O estrago está feito.

Medo de ter medo
Vamos aos principais entraves. Muitas pessoas perdem grandes oportunidades porque são anestesiadas pelo medo. O estado de temor é tanto, que muitos têm medo de ter medo. Vamos à definição acadêmica de medo: é uma perturbação resultante da idéia de um perigo real ou aparente ou da presença de alguma coisa estranha ou perigosa; pavor, susto, terror. Preste atenção: "idéia de perigo", "aparente". A maioria dos medos não é real ou resulta de uma visão deturpada da realidade.
Dulce explica que entender o processo do medo é a melhor forma de lidar com ele. Analise o que causa medo a você e tente reformular o que você imagina que seja o perigo. Dulce dá o exemplo do vendedor que vai visitar o cliente e reza para que ele não esteja. Este tipo de medo é o mais comum: o desejo de evitar o processo de enfrentamento. Ninguém gosta de conflito. Então, vamos à solução: comece a mudar a sua visão do que é uma negociação. A concretização de uma venda não é um contraponto, é um acordo.
É verdade. E por que todos enxergam a dualidade? "Porque faz parte da linguagem das vendas e ela acaba influenciando a sua compreensão. O que você escuta nos treinamentos? "Vamos à luta!", "Você será vitorioso!". Na área de vendas, é muito comum o uso de palavras de conflito. Se vou para vencer, é uma luta, é um confronto, a linguagem é a do medo", diz Dulce. Esclarecendo: este é um exemplo em que o medo é aparente. Neste caso, muda-se a forma de encarar a situação e o medo é eliminado.
E quando o medo é real? A técnica é a mesma. Olhe bem para ele, analise-o e enfrente-o. Você pode melhorar o medo para que ele fique menos poderoso. O medo não é necessariamente negativo. É ele que possibilita o seu desenvolvimento, as mudanças. Se você não tivesse medo, não mudaria. Sem contar que o medo é um mecanismo de defesa e o responsável direto por você estar vivo.

Leão covarde
Há pessoas que se vangloriam da sua coragem: "Não tenho medo de nada! Sou corajoso..." "A coragem não é ausência de medo. Coragem é ser capaz de controlar o medo. Coragem é vencer o nosso instinto básico, que, muitas vezes, não é verdadeiro, é uma percepção distorcida", ensina Dulce.
Um exemplo é o medo de avião, racionalmente inexplicável, pois é o meio de transporte mais seguro de todos. Mas por que muitos têm tanto pavor de entrar no avião, a ponto de recusar propostas milionárias de trabalho no exterior? "Aceito, mas só se todas as viagens eu puder fazer de navio. Inviável?! Então agradeço o convite."

Tenho pavor!
O pavor das alturas vem de uma razão muito simples (incluindo os traumas): somos seres terrestres, nosso instinto diz que devemos ter os dois pés no chão. Nada de voar! Como a coragem age neste caso? O seu córtex, seu lado racional, deve ser poderoso o suficiente para dominar o seu instinto primitivo. É muito comum, em incêndio de prédios, pessoas se atirarem para a morte, em vez de esperarem o socorro. Quantos não se salvariam se tivessem o autocontrole de aguardar o resgate? Mas o pavor chega a tal ponto que se sobrepõe ao racional. O instinto é quem está no controle: "Está vendo, idiota. Quem mandou você subir? Desça, desça imediatamente!"
"O medo é inerente ao ser humano. Todos têm medo de alguma coisa. Ele faz parte do nosso projeto de defesa. Temos medo de perder o avião (e cuidamos do horário), de ficar parado no mesmo lugar (e buscamos outros caminhos), medo de ficar sozinhos (buscamos o outro), de morrer (e buscamos saúde). São medos que fazem você avançar, que impulsionam. E a coragem é que nos dá força para irmos ao encontro do que queremos. Coragem é enfrentar o medo, é arriscar, é tentar. Quem não tem medo não precisa de coragem", afirma Dulce.
"Há contextos em que o medo é extremamente bem-vindo", lembra Eugênio. "Se o medo faz com que você seja detalhista, ponderado, disciplinado, ele é muito bem-vindo. Ele pode ser um grande aliado ou um grande adversário, depende de como você lida com ele", completa.

Suba na mesa e veja de outra forma!
Dulce concorda que a forma de encarar o medo é que pode ser mudada. "É um comportamento, um processo de aprendizagem que você teve, mas que pode ser mudado. É um treino: você transforma uma tarefa árdua em uma tarefa suave. Algo antes difícil torna-se prazeroso. Não dói mais fazer, não há mais conflito. O conflito é você quem coloca. Se você deixa de achar que só o que você pensa é melhor, se aceitar que o pensamento do outro também é válido, não haverá conflito, haverá acordo. A questão é rever, dar um novo significado".O trabalho de ressignificar é lento, porque envolve a linguagem, a comunicação com você e com o outro, mas os resultados são compensadores.
O medo é um dos maiores entraves no desenvolvimento humano. Na vida pessoal, muitos deixam de ser felizes porque têm medo de fracassar novamente. Na área profissional, o medo é o vilão-mor do desenvolvimento e do aprendizado. Relacionamentos que chegam ao fim são vistos de forma muito negativa. Você se separa e tem que fugir das pessoas que insistem em dar os pêsames. Por que precisa ser negativo? Um rompimento pode também ser um ato de extrema esperança, de otimismo, da busca do melhor, da crença de que o amor pode ser de outra maneira.
Carreiras vão por água abaixo porque muitos profissionais enxergam como negativo, como incompetência, a atitude de admitir que não conseguem desempenhar determinada tarefa e buscar ajuda. Por melhor posicionamento que você tenha no mercado, não tenha medo de - com tranqüilidade e fraqueza - admitir: "não consigo vender este projeto", "não consigo planejar as ações". Também é uma questão de linguagem, de significado. O profissional imagina que a vida é uma batalha, uma luta, e pensa que, se ele admite que não pode, é um fracassado.

Muito bom senso
Ninguém está dizendo que você deve ser um molenga submisso. Afinal, você precisa vencer as suas dificuldades, vencer a si mesmo. "Esta é a diferença entre ser competitivo e competidor. Competitivo é vencer a si mesmo, é estar sempre melhorando. Competidor é vencer os outros. É quando o foco deixa de ser no outro para ser em você. É a capacidade de ir além dos seus medos, de superar suas manias. É o conteúdo que dá valor à forma, não é o contrário. Entender isto já é um grande salto de consciência. Mude a sua percepção da realidade. Assimile que você está assim, mas não quer ser assim", diz Dulce.
Se o outro não percebe que você tem algo para trocar, não existe o relacionamento", diz Dulce. Se você se queixa de que é ótimo, mas que as pessoas não lhe dão uma chance de se mostrar, ou não o entendem, mais uma: a responsabilidade do entendimento da mensagem é do comunicador, não do receptor. Dulce dá o seu próprio exemplo como palestrante: "É da minha responsabilidade passar o meu conteúdo. Se estou com dificuldades, utilizo metodologias como a poesia, metáforas, trago o meu receptor para a percepção, dou exemplos do seu dia-a-dia".

Não economize cristais
Chacoalhe sua consciência, questione suas opiniões, avalie se determinado ponto de vista é o melhor. E, para isto, conheça também outras opiniões, outros pontos de vistas. Por que o seu é melhor? Você já comparou com os dos outros? Dulce explica que, em seus treinamentos, procura mostrar alguns conceitos absurdos. "Por que economizamos os cristais? é ridículo. As pessoas adoram o cristal, mas economizam, dizem que são para os dias especiais e determinam que os dias especiais são poucos dias".

Você disse o quê?
Outro ponto importantíssimo é a sua comunicação. Vigie a sua forma de se expressar, pois as palavras são perigosas.
O médico Joseraldo Furlan, especializado em Medicina Comportamental, da Consultoria Vem Ser, sugere um teste. "Feche os olhos e diga: "minha empresa não é lucrativa". Agora anote as sensações percebidas. Em seguida diga: "minha empresa ainda não é lucrativa". Anote as sensações. Vai ser muito claro que, no primeiro exemplo, as sensações são de culpa, de mágoa, de ônus, de perda, e, no segundo, são de esperança, perspectiva de futuro melhor, otimismo".
Não despreze a força das palavras! Eugênio sugere que você observe que tipo de padrão, que tipo de linguagem você tem usado. São palavras que impulsionam ou são palavras que reforçam crenças limitadoras, como "eu não posso", "não consigo", "isto não é para mim", "sei que não sou capaz", "não fui selecionado porque não tenho QI"? Esta vitimização verbal é profundamente limitadora e contribui para resultados insatisfatórios.

Disciplina é liberdade!
Muito bem. Você está decidido a mudar, mas não consegue partir para a ação, fica imobilizado pela preguiça e... falta disciplina. Um problema que as pessoas enfrentam no processo de mudança é a idéia errada que se tem de disciplina. O conceito vigente é invencível e precisa ser ressignificado. Anote: disciplina é ser capaz de colocar a inteligência no ato. A nossa resistência vem da associação de que disciplina é rigidez, é tarefa árdua, é esforço militar, exige muita força de vontade.
Analisemos o exemplo clássico dos regimes. Disciplina é um processo de transformação. E não há transformação se você se impõe o sofrimento. Por exemplo: os regimes que privam você de todas os pratos que lhe dão prazer. Por quanto tempo você vai agüentar a salada? A opção pelo sofrimento não é disciplina. Disciplina é colocar uma nova energia na sua inteligência. É buscar uma nova consciência para comer, para buscar saúde. É um processo de autoconhecimento, de evangelização. É você criar outra realidade para você.

Salada com prazer
Disciplina é gestão de hábitos. Você aprendeu na infância que o doce é gostoso, dá prazer, mas hoje ele não serve para o seu projeto de sucesso, de qualidade de vida, de estar em equilíbrio, de ser fisicamente flexível. Deve ser autodoutrinação, uma escolha consciente. Este é o motivo porque a maioria dos regimes fracassa. É preciso mudar a consciência e não simplesmente impor-se regras. É um exemplo que serve para qualquer outro tipo de mudança.
Faça um levantamento: onde é que você quer mudar, como e onde você cria a semente do novo hábito? Então, em vez de se esforçar, de sofrer para aprender a fazer algo que você não quer, você vai aprender a fazer algo que você quer.
Agora é um bom momento para fazer um alerta: não pare no meio do caminho. "Quando você tem consciência de que precisa mudar uma atitude e não vai adiante, o sofrimento é maior." Não é bom ter consciência e não fazer.Descubra formas de fazer isto, mude o modelo mental.Livre-se da paralisia do condicionamento e da couraça do comportamento antigo.

Busque reforços
A ação eficaz está ligada ao método eficaz. Eleja um método para que funcione melhor a sua ação. Há pessoas que vivem fazendo coisas com método ruim. Só resolvem um problema criando outro. Vivem mergulhadas em uma nuvem de azar.
O sucesso desta atitude depende também de autoconhecimento. A ação precisa ser melhor orientada: o que funciona melhor para você? A resposta efetiva tem a ver com autoconhecimento, com prática, com testar a realidade. Loucura é continuar em um mesmo método procurando o resultado diferente.
Método é o que não falta neste mundo. Há método para fazer tudo: para conhecer pessoas, fazer academia, estudar. Qual é o seu método, qual o método que permite a você ser mais assertivo, ser mais extrovertido? Cada um de nós tem o seu método, o seu processo de mudar, de aprender, de fazer. Você aprende sobre método observando, aprendendo com o que os outros fizeram e também conhecendo coisas que outros fizeram.
Está com dúvida sobre o seu foco? Leia biografias. A literatura é um catálogo de vidas possíveis. Precisa turbinar a sua forma de estudar? Tente o Mapa Mental (tudo sobre o assunto na VENCER! de dezembro, edição 27). Quer mudar a sua postura diante da vida? Conviva com pessoas que são como você gostaria de ser e aprenda com elas. Amplie sua visão e aumente o seu repertório.
"Quanto mais recursos, melhor é a qualidade da ação. Você faz um levantamento do que dá para melhorar, faz novamente, busca mais ferramentas, aprimora. Pronto! Você acaba de entrar no círculo do sucesso. Aprendeu que sempre dá para fazer algo melhor, sempre dá para melhorar", ensina Eugênio. Além de você encontrar as respostas para alcançar mais rápido as suas metas, você será uma pessoa muito mais autoconfiante.

Controle-se!
E por falar em autoconfiança... Saiba que a falta dela é o primeiro compasso do descontrole. Este é um veneno letal tanto para o relacionamento consigo mesmo quanto para com os outros. Emocionalmente, é um desgaste muito grande. Um acesso de raiva e toda a sua energia vai a zero, abaixa o seu sistema imunológico, a auto-estima (quando você volta a si), etc. Para os relacionamentos equivale a um tiro de canhão à queima-roupa. Você será malvisto pessoalmente, julgado, condenado. E as lágrimas são proibidas. Para os homens, é impensável: você ganhará o rótulo de problemático, de fraco (além de entrar para o folclore da empresa). Para as mulheres, apesar de ser mais tolerado, também é desastroso. Se ela for líder, a rotularão de desequilibrada, e, se não for, vão dizer que é desequilibrada também. Solução? Procure os motivos (muitas vezes a base é a insegurança) e, enquanto a cura não vem, controle-se! O autocontrole também é treino. A primeira vez será um sacrifício, mas, depois, com a prática, doerá cada vez menos.

É com você
Quem é a vítima? Outro grande bloqueador de crescimento é você não encarar que o problema é com você. "Para algumas pessoas, o problema nunca é com elas; sempre são os outros. Não é o seu trabalho que foi ruim, o líder é que não explicou direito. Quando responsabilizamos os outros, acabam todas as chances de mudança. Quando você diz que o problema está fora, você está tirando de você a capacidade de solução. Você acaba perdendo a oportunidade e o poder de mudar, de se desenvolver, de ser melhor", afirma Eugênio.
E... otimismo! Esqueça o maniqueísmo do certo e do errado, do sucesso e do fracasso. Viaje leve! "Tenha em mente que o resultado negativo faz parte do seu aprendizado e ele é o resultado que você ainda não conseguiu. Não é o esperado ainda. Então você vai mudando e moldando as ações através da avaliação dos seus resultados. Avalie como você fez e o que poderá fazer para que da próxima vez o resultado seja diferente. Ninguém melhor do que você que fez primeiro para chegar a uma solução. E é no momento da avaliação dos seus resultados que você traça o seu futuro. VOCÊ e mais ninguém", finaliza Joseraldo.
Outdoor trainning
Aprendendo ao ar livre

O treinamento outdoor, aquele que envolve atividades ao ar livre - esportes radicais, jogos lúdicos, gincanas, danças sagradas, jogos cooperativos -, angaria cada vez mais adeptos. Também chamado por alguns especialistas de Recursos Humanos de "vivencial" , "comportamental" ou ainda "outdoor trainning", traz a proposta de unir racional e emocional, teoria e vivência prática.
"A educação do adulto é muito mais eficiente a partir da vivência", explica Simone Lucca Kabariti, que utiliza em seus treinamentos o rafting (descida de rio em botes infláveis) e a prova de orientação, atividade em que o participante tem que unir o uso de mapa e bússola para chegar a um determinado local.
O consultor Gustavo Boog, autor do livro Manual de Treinamento e desenvolvimento: um guia de operações (Makron Books), também atua com os treinamentos vivenciais e tem um novo projeto: o Ecotrainning. "Nesta modalidade, que acontece em parques estaduais, a natureza é parte integrante do treinamento e trabalhamos mais com jogos cooperativos do que com competitivos. Que na verdade é o que as empresas estão precisando", afirma Gustavo.
Quem você realmente é?
De acordo com a psicóloga Simone Fantini, gerente de treinamento da Thomas Internacional, nas atividades ao ar livre há o desgaste físico, o cansaço e as situações inusitadas. "Nestas condições o indivíduo é 100% emocional. Ele não racionaliza as ações. E, neste contexto, o profissional mostra quem ele realmente é", diz.
Muitas empresas utilizam esportes para selecionar potenciais perfis de gestores. "O esporte cria situações em que o profissional não tem controle, então ele não consegue camuflar o comportamento. Ele expõe o emocional, não tem como racionalizar", reforça ela.
Mas este tipo de atividade não se limita apenas ao diagnóstico de perfis profissionais, muito utilizado pelas consultorias no processo seletivo. Liderança, capacidade de trabalhar em equipe, adaptação, integração também podem ser trabalhados neste tipo de treinamento. Inclusive é uma ferramenta também para o autoconhecimento. "O profissional vai detectar e entender por ele mesmo o seu comportamento, simplesmente porque ele vivenciou, ninguém disse, ele descobriu. Muitos se dão conta de seus comportamentos e tem início o processo de autodesenvolvimento", explica Simone Fantini.

Como é feito?
Todos os treinamentos vivenciais têm uma fórmula básica. Em um primeiro momento, há a proposta do que deverá ser feito, a tarefa ou o desafio (no caso dos esportes de aventura). Em uma segunda etapa, há a execução do que foi pedido e, na última etapa, o resgate. Nesta fase há a discussão sobre o que foi feito e é onde entram os conceitos teóricos.
Um exemplo: No caso das danças sagradas... Danças sagradas? (é, isto mesmo que você leu). Consultores seriíssimos, como Inês Cozzo Olivares e a consultoria internacional Thomaz International, utilizam estas danças. Criadas por povos de culturas diversas, elas trazem um ensinamento poderoso de sincronia e de união. Por isso são muito utilizadas para afinar o conceito de equipes.
Voltemos ao exemplo: no primeiro momento, o consultor ensina a dança para a equipe. A seguir, acontece a dança e, por último, há o resgate, a discussão sobre o que foi feito. O que é discutido? Por que determinada pessoa não conseguiu dançar (acontece!)? Por que faltou sincronia. O grupo discute e cada um individualmente vai repensar e avaliar o seu desempenho na atividade. Depois vem a fase das analogias com o seu dia-a-dia. Neste caso, normalmente é constatado que os problemas que acontecem na execução da dança refletem o que acontece dentro da equipe, dentro da empresa.
Então, não é só emocional?
Bem lembrado. O grande mérito deste tipo de treinamento é a possibilidade de trazer à tona o emocional, mas o racional não é negligenciado. Se, durante a execução das atividades, o indivíduo é 100% emocional, no resgate (etapa conclusiva do trabalho) as emoções são traduzidas para o racional. O grupo e cada indivíduo avaliam as atitudes e as dificuldades e depois a resposta a cada uma delas. A seguir, a importantíssima etapa da analogia, em que o profissional "extrapola" o aprendizado para o seu dia-a-dia profissional.
"É a união do racional com a vivência de emoções e sentimentos como superação de desafios e limites, autoconfiança, ousadia, coragem", completa Simone Kabariti.

Perigo na frente
Descer corredeiras de rios em botes infláveis, embrenhar-se em mata cerrada, descer cachoeiras pendurado em cordas, escalar montanhas... Para quem ficou com aflição só de pensar, pode ficar tranqüilo: todos as empresas que prestam este tipo de treinamento fazem parcerias com especialistas da área, que se responsabilizam e garantem a segurança total de todos os participantes. A Simbolicah, por exemplo, conta para o rafting com uma equipe de monitores treinados e equipados (inclusive que conhecem a geografia local e cada ponto do rio) e tem a prova de orientação conduzida pelo alpinista francês Jean Claude Razel, da Alaya Expedições.

Terapias alternativas
Reforço através dos sentidos
O consultor Gustavo Boog, da Boog Associados, é um dos pioneiros no uso de florais e aromaterapia. Autor do livro Energize sua empresa - como os florais podem dinamizar o seu ambiente de negócios (Editora Gente), Gustavo utiliza estas "técnicas" em seus treinamentos desde 1992, como recurso terapêutico.
"Utilizamos a aromaterapia em ambientes - como sala de reuniões, por exemplo - e disponibilizamos os florais para uso individual. Recomendamos os florais para diversos casos: profissionais ansiosos, ressentidos. Para cada estado emocional existe um floral correspondente", explica Gustavo. Outra consultoria, a Thomas International, desde o início deste ano inseriu nos seus treinamentos a aromaterapia.
Antes que você comece a imaginar coisas, é bom saber que os aromas funcionam como um reforço extra. Durante as atividades vivenciais, em pontos estratégicos, determinado aroma é inserido no treinamento. O objetivo do aroma é fortalecer a assimilação do conceito/conhecimento através da memória olfativa.

"Todo o conhecimento recebido será gravado também na memória olfativa. É um link do aprendizado com os sentidos. Com o reforço do aroma a absorção do conteúdo é maior e mais continua. Um reforço valioso, uma vez que a tendência é se perder rápido o que foi aprendido ou despertado", diz Simone Fantini .

Para quem torce o nariz para este tipo de ferramenta, vale um esclarecimento: não se trata de espalhar perfumes durante as atividades. Para desenvolver este trabalho, a Thomas, por exemplo, conta com a experiência do osmólogo graduado na Suíça, Luiz Fernando Amaral, especialista na ciência do olfato.
Mas por que esta confusão de técnicas que à primeira vista parece o clássico "atirar para todos os lados"? "O objetivo destas técnicas é trabalhar o ser humano como um ser integral, e não trabalhar as partes. O profissional não é uma máquina de trazer resultados. Ele não é só racional, é emocional. Para trazer resultados positivos, o profissional precisa estar bem emocionalmente, precisa se conhecer, saber lidar com o outro. Estas técnicas trabalham o ser humano como um todo", explica ela.
Teatro Palco é a sala de aula
A utilização do teatro como veículo para levar mensagens é antiga. Na idade média, artistas iam de cidade em cidade exibindo histórias da vida cotidiana, uma espécie de crônica de costumes, com alto grau de crítica. Na história do Brasil, este reconhecimento veio pelo avesso: em tempos de censura, nada era tão vetado (e temido) como as montagens teatrais de conteúdo "subversivo". O mundo corporativo também descobriu a eficiência desta ferramenta e já há vários consultores especializados neste formato.
O mineiro Grupontapé de Teatro está há 7 anos no mercado e utiliza o teatro para treinar equipes, sensibilizar para a segurança no trabalho, gestão organizacional, marketing e endomarketing. "Utilizamos o teatro como ferramenta de comunicação e motivação. São shows temáticos, palestrantes-animadores (cantores e atores) e peças de teatro. O formato depende da necessidade da empresa. Temos também diversas formas de abordagem. Fazemos as "intervenções teatrais" dentro da própria empresa, como no refeitório, por exemplo, ou mesmo no próprio departamento do profissional, em horário de expediente", explica Rubem Reis, produtor do Grupontapé. Rubem explica que a maioria dos trabalhos é voltada para a motivação e para a busca de comprometimento do funcionário com a meta da empresa, qualidade de serviços, etc.
Envolvimento lúdico
"O formato do teatro é altamente envolvente. O profissional interioriza mais os conceitos e há uma maior retenção de conteúdo", completa. "O teatro propicia um momento cômico, musicado, lúdico. É um momento diferente no mundo empresarial, uma quebra de rotina que cria uma expectativa de treinamento extremamente favorável, e o profissional não sente o peso tradicional comum dos treinamentos", explica Reinaldo David Rizk, diretor e produtor da Toque de Areia, empresa paulista que também atua neste segmento.
"Sem contar que o teatro traz a mensagem de forma mais completa, porque comunica simultaneamente através dos campos visual (colorido, jogo de luzes, variação de figurinos, movimentação em cena), o auditivo (música, diferentes entonações de vozes) e sinestésico (contamos histórias que envolvem a platéia porque elas vão absorvendo o conteúdo à medida que vão se identificando com os personagens)", completa ele.
Rigor no conteúdo
Apesar do tom lúdico, o conteúdo não é negligenciado. Na Toque de areia os textos das peças são escritos por consultores, palestrantes e dramaturgos com vivência no mundo empresarial. O Grupontapé conta com uma equipe de psicólogos, profissionais da área de segurança, palestrantes, músicos, atores e outros profissionais, dependendo da necessidade do projeto.
Para quem imagina que o formato diferenciado é para poucos alternativos, aí vão os números: o Grupontapé contabiliza uma platéia de 300 mil profissionais de diversas empresas, como Petrobrás, Bayer, Usiminas, Gessy Lever e Belgo Mineira. A Toque de Areia faz cerca de 200 espetáculos por ano e em oito anos de atuação soma 1.200 apresentações no país para grandes empresas, como Siemens, Banco do Brasil e Bovespa.
Humor
Ensinar com o riso

O ator Raul de Orofino oferece uma ferramenta inusitada para treinar profissionais: o humor. Ator profissional desde garoto, Raul começou este trabalho por acaso. Em 1993, recebeu o convite de uma empresa da área de aviação para fazer uma comédia durante o vôo. O objetivo é óbvio: rindo, os passageiros perdiam o medo de voar. A partir daí nunca mais parou. Hoje seu trabalho extrapolou as fronteiras da América, e Raul também é sucesso em Portugal.
Raul é um artista completo: escreve o roteiro das peças, atua e dirige, e mostra de uma forma descontraída, a importância fundamental do humor no ambiente de trabalho. "O humor atinge o emocional e pode transformar as emoções negativas. O riso é uma ferramenta para a alquimia emocional", filosofa.

Livre-se do medo
E, quando se fala em emoção negativa, o medo ocupa um lugar de destaque. "As pessoas têm medo de lidar com as dificuldades da vida pessoal e profissional, com mudanças, com desafios, com quebra de paradigmas. A base do meu trabalho é o humor como ferramenta para mudanças, porque o grande medo do ser humano é mudar", explica o ator. "Nós não temos o controle total da vida.
A mudança é inevitável, então a melhor forma de enfrentá-la é com o bom humor", completa.
"Segundo os médicos, quando rimos, liberamos endorfinas, substância que anestesia dores e reforça o sistema imunológico. É comprovada a eficácia do riso no tratamento de pacientes com câncer e aids. As endorfinas diminuem as dores físicas e emocionais", diz ele. "O estado geral fica melhor, conseqüentemente você cria, pensa e produz melhor. Humor é uma inteligência, o ser humano é o único animal que ri, não temos isto à toa", continua.
Rir é responsável e sério
Raul complementa as peças com uma palestra sobre o conteúdo de acordo com a necessidade da empresa, além, é claro, de falar sobre a importância do humor. "É um trabalho de demolir preconceitos, porque as pessoas foram ensinadas que rir não é uma atitude de gente séria, é coisa de irresponsável", explica Raul.
Mas é possível ensinar alguém a ter bom humor? "Rir é como fazer ginástica. O humor é uma atitude, uma atitude que pode ser aprendida. O bom humor dá flexibilidade e estimula a criatividade. Experimente rir de um grande problema, você perceberá que ele vai incomodar menos . A situação tensa vai continuar, mas você mudou sua postura diante dela e a solução fica muito mais próxima", responde.
Ponto para o relacionamento humano
O humor humaniza as pessoas. Raul dá o exemplo do que aconteceu em uma rede internacional hoteleira, em Portugal. "Diretores e arrumadeiras riam juntos. Esta espontaneidade e interação em um treinamento tradicional levaria dias", diz. De acordo com ele, é uma espécie de confraria secreta: naquele momento as pessoas ali dividem o mesmo mistério. "O humor energiza, faz com que você se sinta poderoso, goste mais de si mesmo. É por isso que todos querem estar perto de pessoas alegres, querem pegar, se relacionar. Bom humor é dinheiro! Tanto que é pré-requisito de seleção", afirma divertido.
MúsicaNa companhia de Mozart
Para quem pensa que música não tem nenhuma ligação com o mundo corporativo, a Sinfonia Empresarial é uma bela surpresa. O maestro Walter Lourenção e a Orquestra de Câmara do Brasil (considerada pela crítica especializada uma das melhores da América do Sul, composta por músicos e professores da Orquestra da USP, da Unesp e do Teatro Municipal de São Paulo) usam as semelhanças entre o funcionamento de uma orquestra e uma empresa para sedimentar aprendizados. "É um exercício de analogia entre a gestão de uma empresa e a de uma orquestra. Não se trata de um concerto comentado. O próprio profissional faz as comparações e elabora critérios de transformação", explica ele.
Afinado como uma orquestra

Um exemplo de uma analogia simples: o maestro pede que os músicos toquem sem prestar atenção nos outros. Depois, ele pede para que cada um toque prestando atenção no outro músico. E a partir daí a platéia avalia os resultados musicais. A seguir, o maestro explica o que existia em um e o que existia no outro. Explica qual é o tipo de treinamento contínuo que os músicos têm para obter aquela sintonia, etc.
"O grande diferencial deste tipo de treinamento é o aspecto sensorial. O profissional recebe o conceito e ouve o resultado físico. Ele não fica apenas com o conceito teórico, que é difícil de internalizar. Há o sensorial, o resultado musical. Cada um faz o seu próprio exercício de analogia. É um exercício mais prático do que teórico. O profissional já tem a experiência e o conhecimento, ele só vai projetar o seu conhecimento na orquestra", afirma.
"Não é uma brincadeira. É um momento de concentração e seriedade, um processo de transformação individual. Utilizamos o conceito da orquestra para impulsionar este processo", continua.
Trabalho consagrado
Para quem acha que é um treinamento de vanguarda, que precisa ser testado, não é. O trabalho do maestro já conta com 12 anos de estrada. O trabalho surgiu quando Lourenção recebeu o convite de um professor para reger uma orquestra em um congresso de recursos humanos. "Perguntei aos organizadores se eles não queriam que eu fizesse alguns comentários. E, ali mesmo, várias empresas me convidaram para fazer outras apresentações".
Com sua fala segura e carismática, o maestro mostra as similaridades entre o cotidiano de uma empresa, o desempenho de uma orquestra e a logística vital das estruturas empresariais, estabelecendo analogias sobre as concordâncias e dissonâncias do gerenciamento de equipes. Os temas e o tipo de trabalho (inclusive o repertório) são personalizados de acordo com a necessidade da empresa.

Excelente companhia
À frente da Orquestra de Câmara do Brasil, Lourenção vai conversando sobre Mozart e marketing, Vivaldi e vendas, Bach e qualidade, jazz e estratégia empresarial, alta performance e a Filarmônica de Berlim. Presenteados com a boa música de uma orquestra ao vivo, platéias compostas por profissionais de todos os níveis e hierarquias passam a entender, por exemplo, que assim como uma empresa, uma orquestra é um organismo vivo, em que cada músico depende do outro.
"A presença de uma orquestra é um estímulo sensorial, emocional e estético, capaz de criar condições ideais para a aplicação de conhecimentos teóricos que cada espectador possui ou está adquirindo durante o evento", diz o maestro.
"Mas, na essência, demonstramos em nossas apresentações que emoção e envolvimento são itens absolutamente fundamentais em qualquer atividade. Se faltarem esses ingredientes no dia-a-dia das empresas, o trabalho pode ser comparado a uma orquestra que, mesmo tocando corretamente todas as obras, não consegue provocar nada de especial. É como uma partida de futebol onde todos jogam bem, mas que termina sem gols."
O maestro é músico profissional desde 1962, e foi fundador de inúmeras orquestras, corais e grupos de câmara, além de diretor de programação do Museu de Arte de São Paulo (MASP) durante 10 anos. Na rádio Cultura FM apresenta diariamente um programa com músicas clássicas nacionais e internacionais.